Plataforma exibe propagandas de sites sem licença no Brasil, mesmo após acordo com Governo Federal
O YouTube, maior plataforma de vídeos do mundo, tem lucrado com a veiculação de propagandas de bets ilegais, ou seja, sites de apostas online sem autorização para operar no Brasil. A denúncia foi feita em reportagem da Folha de S.Paulo publicada neste domingo (13), que mostra como os anúncios são direcionados a usuários que consomem conteúdos relacionados a jogos e apostas. A constatação ocorre pouco mais de um mês após a plataforma proibir criadores de conteúdo de promover casas de apostas e jogos de azar não certificados.
Apesar de o Google — empresa proprietária do YouTube — ter assinado acordo com o governo brasileiro para remoção desse tipo de conteúdo, o levantamento identificou que anúncios desses sites continuam sendo exibidos com frequência. Procurada, a plataforma afirmou que o conteúdo denunciado “está em análise” e que, desde setembro de 2024, suas políticas de publicação foram atualizadas.
Como o esquema funciona
Os anúncios são programados para alcançar usuários que buscam vídeos sobre apostas, com destaque para o popular “jogo do tigrinho” e similares. A cada três vídeos sugeridos, há pelo menos uma propaganda de plataformas ilegais. Ao clicar, o usuário é direcionado para lojas virtuais que instalam aplicativos nos celulares, liberando o acesso ao site de apostas sem qualquer exigência de comprovação de identidade ou maioridade. O cadastro, em geral, solicita apenas um número de telefone e uma senha.
Algumas dessas plataformas se apresentam como “nova plataforma legalizada”, mas nenhuma delas possui o domínio “.bet.br”, requisito obrigatório para empresas devidamente autorizadas pela legislação brasileira.
A promessa de “bônus em dinheiro ao se cadastrar” — prática comum entre esses sites — também é proibida no Brasil.
Irregularidades
Diversos aplicativos associados às bets ilegais são registrados por empresas com sede em Hong Kong, enquanto os domínios costumam alegar licenciamento em Curaçao, no Caribe — uma prática recorrente entre casas de apostas que buscam operar fora da regulamentação local.
A rotatividade dos sites também é alta. Quando um endereço é bloqueado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), outro é rapidamente lançado, muitas vezes com nomes genéricos ou variações numéricas para escapar da fiscalização.
Segundo a reportagem, um dos aplicativos identificados foi lançado por uma suposta desenvolvedora chamada Ballet Lyn, em 31 de março de 2025, direcionando o usuário para o site 666bet.com, bloqueado desde outubro. Outro, da desenvolvedora Naftalielijah, foi adicionado às lojas virtuais já em abril.
Alguns desses apps são listados nas lojas com classificação livre, o que contraria as regras brasileiras, já que plataformas de apostas não podem ser acessadas por menores de 18 anos.
O que diz a lei
A operação legal de apostas no Brasil exige o pagamento de outorga no valor de R$ 30 milhões ao governo federal, além de apresentação de garantias técnicas e cumprimento de regras de prevenção à lavagem de dinheiro. As empresas também devem pagar impostos sobre seus lucros e respeitar as normas de publicidade, como a proibição de premiações condicionadas ao cadastro.
Fiscalização
Apesar do acordo com o governo brasileiro, o YouTube ainda aceita e monetiza propagandas desses sites ilegais, inclusive com anúncios animados e coloridos, que prometem até “99% de vitória” e “x10 para iniciantes”.
“7 DIAS PARA INICIANTES x10” e “99% DE VITÓRIA” são algumas das frases encontradas em banners promocionais ativos, mesmo sendo claramente enganosas.
Nas redes sociais, usuários também relatam fraudes e golpes, incluindo casos de instalação de vírus, bloqueio de contas e impossibilidade de saque dos valores ganhos.
O Google, no entanto, não revela quanto arrecada com os anúncios de bets ilegais, nem divulga o número de visualizações atingidas por essas campanhas.
Proibição
O Google anunciou no último 5 de março uma nova diretriz para o YouTube que proíbe criadores de conteúdo de promover casas de apostas e jogos de azar não certificados. Desde o dia 19 de março, youtubers não podem mencionar, divulgar links ou exibir artes relacionadas a plataformas não autorizadas pela big tech. A medida faz parte de um endurecimento das políticas de publicidade da plataforma, visando restringir o acesso a serviços não regulamentados.