Para ANJL, afirmação é tentativa de transferir responsabilidades econômicas complexas a um segmento específico, sem evidências
A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL) ingressou com uma ação judicial contra a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para que esta preste esclarecimentos sobre informações veiculadas em um vídeo que associa o agravamento da insegurança alimentar no Brasil à atuação das casas de apostas. O conteúdo, publicado nas redes sociais da entidade do varejo e narrado por seu presidente, João Galassi, gerou forte reação do setor regulado das bets, que classificou as declarações como “generalizações potencialmente difamatórias”.
A iniciativa da ANJL, divulgada pela coluna Radar, da Revista Veja, busca uma interpelação judicial para que a Abras seja obrigada a apresentar as fontes de informação utilizadas no vídeo, além de explicar a metodologia de apuração dos dados mencionados, especialmente no que se refere às perdas supostamente atribuídas às apostas no setor varejista e ao consumo de famílias em situação de vulnerabilidade.
“Na opinião deles, as bets são as responsáveis. Chega a ser absurdo, porque dissemina uma fake news que tem o objetivo de atacar um setor legítimo da economia, que, somente este ano, vai gerar em impostos mais de 4 bilhões de reais”, afirmou o presidente da ANJL, Plínio Lemos Jorge.
A associação de operadores afirma, no pedido judicial, que o vídeo divulgado pela Abras sugere que o setor de apostas foi responsável por uma perda de R$ 103 bilhões no varejo, sem apresentar qualquer embasamento técnico ou estudo comprovado. A ANJL contesta os dados, destacando que “dados oficiais do IBGE mostram que o varejo registrou crescimento de 4,7% em 2024, não havendo elementos objetivos que vinculem o desempenho do setor ao mercado regulado de apostas”.
Entre os pontos que a ANJL exige esclarecimentos formais, estão:
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As fontes e comprovações empíricas que sustentam as alegações apresentadas no vídeo publicado pela Abras;
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A metodologia usada para calcular os valores supostamente “perdidos” por consumidores que apostam, inclusive entre beneficiários de programas sociais;
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A alegação de que a carga tributária incidente sobre as apostas seria inferior à de alimentos da cesta básica;
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Os critérios técnicos, estatísticos ou científicos que fundamentam a relação causal entre o mercado de apostas legalizadas e a fome no Brasil.
Segundo a ANJL, o objetivo da interpelação é obter uma resposta formal que possa ser usada para embasar futuras medidas judiciais, inclusive criminais e reparatórias, em caso de comprovação de que foram divulgadas informações falsas, descontextualizadas ou prejudiciais à imagem e à concorrência no setor regulado.
A entidade também afirma que a generalização feita pela Abras ultrapassa a crítica institucional e atinge a totalidade do setor de apostas, o que, segundo a ANJL, configura tentativa de transferir responsabilidades econômicas complexas a um segmento específico, sem evidências.
Até o momento, a Abras não comentou publicamente o teor da ação.