‘Mãe da regulamentação’ fala sobre desafios, evolução e oportunidades para as mulheres na indústria
O mercado de apostas esportivas no Brasil passou por uma transformação nos últimos anos, com a regulamentação consolidando a atividade como um setor estratégico para a economia nacional. E, dentro desse cenário, a participação feminina tem ganhado destaque, tanto no setor público quanto no setor privado. Uma das figuras centrais nesse processo foi Simone Vicentini, ex-secretária-adjunta de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, que teve um papel fundamental na estruturação da regulamentação do setor.
Em entrevista exclusiva ao MediaBet Brasil, Simone – também conhecida como mãe da regulamentação – falou sobre a presença crescente das mulheres na indústria, os desafios enfrentados e as oportunidades que se abrem com o avanço do mercado. Atualmente atuando no setor privado, Vicentini reforçou que a participação feminina ainda precisa evoluir, mas que há um caminho promissor à frente.
Sumário
- 0.1 MediaBet Brasil – Nos últimos anos, o setor de apostas esportivas tem crescido no Brasil, e junto com ele, vemos um aumento da presença feminina em cargos de liderança em empresas e até no regulador. Como você enxerga essa mudança e o que ela representa para o mercado?
- 0.2 MediaBet Brasil – Muitas empresas do setor que abriram escritórios no Brasil passaram a contar com mulheres em posições estratégicas. O que esse movimento indica sobre a evolução da indústria e a valorização da liderança feminina?
- 0.3 MediaBet Brasil – Você esteve diretamente envolvida na regulamentação das apostas esportivas no Brasil e hoje atua no setor privado. Como mulher, quais foram os principais desafios que enfrentou nesse ambiente historicamente dominado por homens?
- 0.4 MediaBet Brasil – O setor de apostas ainda pode ser visto como desafiador para as mulheres que querem ingressar ou crescer na carreira. Na sua visão, o que precisa mudar para que essa inclusão aconteça de forma mais ampla e natural?
- 0.5 MediaBet Brasil – Iniciativas como a AMIG, que busca dar mais visibilidade e apoio às mulheres da indústria de gambling, vêm ganhando força. Qual a importância de ações como essa para o fortalecimento da presença feminina no setor?
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- 1.1 MediaBet Brasil – Com a regulamentação das apostas avançando no Brasil, que oportunidades você acredita que se abrirão para as mulheres nos próximos anos?
- 1.2 MediaBet Brasil – Para finalizar, qual conselho você daria para mulheres que querem construir uma carreira sólida na indústria de apostas?
MediaBet Brasil – Nos últimos anos, o setor de apostas esportivas tem crescido no Brasil, e junto com ele, vemos um aumento da presença feminina em cargos de liderança em empresas e até no regulador. Como você enxerga essa mudança e o que ela representa para o mercado?
Simone Vicentini – O início da regulamentação das apostas esportivas e dos jogos online no Brasil foi um passo importantíssimo para a evolução dessa indústria, essencial para o estabelecimento de um mercado seguro e sustentável, apto a atrair investimentos e gerar receita, emprego e renda, além de outros benefícios para o país. Tive a honra e a enorme satisfação de participar ativamente da regulamentação brasileira, primeiro como Coordenadora-Geral de Loterias e depois como Secretária-Adjunta de Prêmios e Apostas.
Nos primeiros meses de existência da Secretaria, a Pasta era comandada integralmente por mulheres: eu como Secretária interina, juntamente com duas mulheres maravilhosas: Daniela Olímpio, Subsecretária de Autorização, e Raiana Falcão, Subsecretária de Ação Sancionadora. Atualmente, a SPA conta também com uma mulher como Secretária-Adjunta, a Carolina Yumi.
Não basta, contudo, nomear mulheres em cargos de direção. É preciso dar-lhes voz, poder de decisão e participação ativa nas discussões, em igualdade de condições na condução dos trabalhos, como eu tive durante toda a minha atuação no Ministério da Fazenda.
MediaBet Brasil – Muitas empresas do setor que abriram escritórios no Brasil passaram a contar com mulheres em posições estratégicas. O que esse movimento indica sobre a evolução da indústria e a valorização da liderança feminina?
Simone Vicentini – O mercado de jogos e apostas no Brasil já vinha crescendo exponencialmente desde os anos de 2020 e 2021, impulsionado pela Pandemia de Covid-19 e pelas novas tecnologias. Esse processo se intensificou após a promulgação da Lei nº 14.790, em dezembro de 2023, e o início da regulamentação. Houve um aumento de 37% nas contratações do setor já no primeiro trimestre de 2024, número que tende a crescer exponencialmente este ano devido ao início da operação autorizada em 1º de janeiro.
MediaBet Brasil – Você esteve diretamente envolvida na regulamentação das apostas esportivas no Brasil e hoje atua no setor privado. Como mulher, quais foram os principais desafios que enfrentou nesse ambiente historicamente dominado por homens?
Simone Vicentini – Vejo os inúmeros desafios enfrentados por ocasião da regulamentação como dificuldades intrínsecas do Poder Público, como a burocracia excessiva, falta de pessoal e limitações orçamentárias. Infelizmente, a questão de gênero ainda costuma ser considerada por ocasião da escolha de pessoas para ocupar cargos mais elevados, como dirigentes máximos de um órgão público ou CEO de uma empresa privada, cargos em sua maioria ocupados por homens.
Isso sem mencionar que, absurdamente, ainda existem disparidades na remuneração de homens e mulheres para o exercício da mesma função. Essa mentalidade precisa mudar e evoluir rapidamente, afinal, competência não deveria ser uma questão de gênero.
MediaBet Brasil – O setor de apostas ainda pode ser visto como desafiador para as mulheres que querem ingressar ou crescer na carreira. Na sua visão, o que precisa mudar para que essa inclusão aconteça de forma mais ampla e natural?
Simone Vicentini – Muitas pessoas, de ambos os gêneros, veem o setor como desafiador, não apenas por suas especificidades, mas em alguns casos por puro preconceito ou desconhecimento. A inclusão passa necessariamente por uma mudança de mentalidade de toda a sociedade, para que chegue o dia em que a igualdade de gênero seja algo tão natural a ponto de não precisarmos mais debater o assunto.
As oportunidades existem e estão abertas a todos, por isso acredito que sempre haverá espaço para mais mulheres neste setor.
MediaBet Brasil – Iniciativas como a AMIG, que busca dar mais visibilidade e apoio às mulheres da indústria de gambling, vêm ganhando força. Qual a importância de ações como essa para o fortalecimento da presença feminina no setor?
Simone Vicentini – A AMIG hoje é a principal associação do setor, não apenas pelo grande número de associadas, mas pelo excelente trabalho que a entidade vem desenvolvendo desde sua fundação há pouco mais de um ano, apoiando, promovendo e acolhendo mulheres que, juntas, vêm se fortalecendo cada vez mais.
Sinto grande orgulho por ser associada e sempre apoio integralmente as iniciativas da AMIG, fundada por mulheres fortes, competentes, grandes líderes e profundas conhecedoras do setor.
MediaBet Brasil – Com a regulamentação das apostas avançando no Brasil, que oportunidades você acredita que se abrirão para as mulheres nos próximos anos?
Simone Vicentini – As oportunidades já estão abertas, e são muitas! Como destacado anteriormente, desde a aprovação da Lei nº 14.790, em dezembro de 2023, inúmeros postos de trabalho foram criados no Brasil no setor de apostas, e muitos deles ocupados por mulheres em posições estratégicas.
O mercado brasileiro ainda está se consolidando, há muitos pedidos de autorização em análise junto ao regulador federal, além das loterias estaduais e municipais já em funcionamento, o que gera milhares de oportunidades.
MediaBet Brasil – Para finalizar, qual conselho você daria para mulheres que querem construir uma carreira sólida na indústria de apostas?
Simone Vicentini – Qualificação, em primeiro lugar. Muitas empresas ainda encontram dificuldades para encontrar profissionais disponíveis com conhecimento das especificidades do setor.
A regulamentação dos jogos no Brasil é um caminho sem volta, e representa um relevante setor da economia que precisa urgentemente de um incremento na quantidade de profissionais qualificados disponíveis para contratação.