Relatórios de fraude são comparados à precisão dos testes antidoping, afirma vice-presidente do TJD-SP
Em um ano decisivo para o mercado de apostas esportivas no Brasil, com a regulamentação do setor proposta pelo Governo Federal, o tema manipulação de resultados ganha cada vez mais espaço na busca por um ambiente esportivo saudável e com credibilidade para os apostadores. Com o endurecimento das regras, as bets tem investido cada vez mais no monitoramento das atividades e garantindo mais segurança para os apostadores. O resultado dessas práticas resultaram numa investigação que teve como alvo Bruno Henrique, atacante do Flamengo, suspeito de ter provocado um cartão amarelo intencional para favorecer apostas de parentes e amigos.
No último dia 29, a Secretaria de Prêmios e Apostas, do Ministério da Fazenda, assinou Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com quatro empresas de monitoramento e integridade – Genius Sports, International Betting Integrity Association (IBIA), SportRadar e Sport Integrity Global Alliance (SIGA e SIGA Latin America) – consolidando um passo importante para fortalecer o setor de apostas no Brasil. A parceria visa assegurar a transparência e a proteção dos envolvidos nas apostas esportivas, incluindo apostadores e operadores.
Mariana Chamelette, vice-presidente do Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo (TJD-SP), afirmou, em entrevista à Folha de S. Paulo, que os relatórios de monitoramento das apostas têm um grau de confiabilidade semelhante ao dos testes antidoping. “Esses relatórios são extremamente precisos”, destacou, ressaltando a importância da tecnologia na detecção dessas fraudes.
As investigações de manipulação, que frequentemente envolvem esquemas de apostas ilegais, começam com a análise dos padrões de apostas e a verificação de comportamentos atípicos dos jogadores, como no caso de um goleiro da quarta divisão do Campeonato Paulista, cuja formação de barreira durante uma falta foi considerada suspeita. O vídeo dessa jogada se tornou uma das provas essenciais que fundamentaram a condenação do jogador.
Chamelette explicou que os árbitros responsáveis pela perícia técnica nos casos de manipulação começam a análise com base apenas nos registros dos jogos, sem acesso a relatórios prévios das empresas de monitoramento de apostas. “Isso assegura que o processo seja conduzido de forma imparcial e técnica”, afirmou a vice-presidente do TJD-SP.
Nos casos em que há suspeitas confirmadas, como o de Bruno Henrique, atacante do Flamengo, os processos são levados à Justiça Desportiva, podendo ainda ser recorridos ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) para uma decisão final. No caso envolvendo o jogador ryubro-negro, o alerta para possíveis manipulações surgiu quando R$ 13.850 foram apostados por três operadores de apostas no resultado de um cartão amarelo contra o jogador. Esse movimento acendeu os sinais de alerta das empresas Sportradar e IBIA (International Betting Integrity Association), que foram contratadas pela Conmebol para monitorar o mercado de apostas. O relatório foi então enviado pela confederação à CBF, que levou o caso à Justiça Desportiva.
Com a denúncia formalizada, a análise detalhada do trabalho pericial começou. O perito encarregado de investigar o caso focou em cada lance do jogador, estudando-os quadro a quadro para identificar qualquer irregularidade que comprovasse a manipulação. Esse processo segue o mesmo padrão adotado nos nove casos de manipulação que foram analisados pela Justiça Desportiva Paulista desde 2020, sempre com um veredicto condizente com as conclusões dos relatórios de monitoramento.