Segundo Regis Dudena, já foram identificadas entre 300 e 400 contas bancárias que funcionavam como ‘contas-bolsão’
O governo federal decidiu atacar o ponto mais sensível das apostas ilegais no Brasil: o dinheiro. A Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), vinculada ao Ministério da Fazenda, está mapeando bancos e fintechs (empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros, como carteiras digitais e meios de pagamento) que ajudam esses sites a movimentar valores fora do alcance da lei.
Segundo afirmou ao Valor Econômico o secretário da SPA, Regis Dudena, já foram identificadas entre 300 e 400 contas bancárias que funcionavam como “contas-bolsão”. Essas contas são abertas em nome de empresas ou pessoas que, oficialmente, prestam serviços legítimos, mas que também acabam servindo de intermediárias para operações de casas de apostas não autorizadas. É como se fossem cofres paralelos, usados para dar aparência legal ao dinheiro das bets clandestinas.
“Se conseguirmos que essas instituições não prestem serviço às plataformas ilegais, elas simplesmente não têm como lucrar”, afirmou Dudena em entrevista ao jornal Valor Econômico.
O que está acontecendo na prática
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Fechamento de contas: só no 1º semestre de 2025, bancos e instituições de pagamento enviaram 277 relatórios à SPA, comunicando o encerramento de 255 contas ligadas a suspeitas de movimentar dinheiro irregular.
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Notificação a empresas: 13 fintechs receberam pedidos formais do governo para prestar informações e encerrar vínculos com sites de apostas ilegais. Isso resultou no bloqueio de mais 45 contas.
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Ação conjunta: os dados coletados são compartilhados com órgãos como Banco Central, Receita Federal e Polícia Federal, que ajudam a ampliar as investigações.
Conexão com outros crimes
O modelo de “contas-bolsão” não é novidade. Esquemas parecidos já foram descobertos em operações contra fraudes no setor de combustíveis, quando criminosos usavam fintechs para lavar dinheiro de atividades ligadas ao crime organizado, como no caso de redes conectadas ao PCC.
O que muda para o consumidor
Na prática, o governo tenta cortar a “torneira” do dinheiro das bets não regulamentadas. Isso significa que, se as medidas tiverem sucesso, será cada vez mais difícil que sites clandestinos ofereçam depósitos e saques aos apostadores. Ao mesmo tempo, a iniciativa pode fortalecer as empresas licenciadas, que recolhem impostos e operam dentro da legislação.