Levantamento revela que falta de educação financeira torna apostadores mais vulneráveis a fraudes
Um estudo conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), revelou um dado alarmante: muitos brasileiros não conseguem diferenciar investimentos legítimos, apostas esportivas e esquemas fraudulentos, como pirâmides financeiras. A pesquisa apontou que há uma percepção distorcida sobre riscos financeiros e que a alta exposição à publicidade de apostas esportivas pode normalizar comportamentos especulativos e aumentar a aceitação de fraudes. Confira o estudo completo aqui!
Os resultados sugerem que a educação financeira deficiente no país contribui para essa confusão e expõe uma parcela significativa da população a perdas financeiras e golpes. Além disso, o estudo demonstrou que indivíduos que apostam com frequência tendem a ser mais impulsivos e mais propensos a cair em pirâmides financeiras.
“Os achados mostram que há um apagão de educação financeira no Brasil, o que torna parte da população vulnerável a golpes e modelos arriscados de investimento”, destaca o relatório da pesquisa.
Sumário
O que o estudo analisou?
A pesquisa buscou compreender os mecanismos psicológicos que influenciam a tomada de decisão em investimentos, apostas e esquemas Ponzi. O estudo envolveu 970 participantes e utilizou um experimento que expôs os voluntários a três cenários distintos:
- Investimentos legítimos – apresentação de dados reais de empresas na bolsa de valores.
- Apostas esportivas – informações sobre probabilidades e ganhos potenciais em casas de apostas.
- Pirâmides financeiras – um modelo fraudulento que prometia retornos irreais.
De acordo com o relatório, “a pesquisa demonstrou que muitos participantes não perceberam diferenças substanciais entre os três cenários”, reforçando a falta de compreensão sobre riscos e retornos de cada modalidade.
Brasileiros não distinguem atividades
O estudo revelou que muitos participantes alocam dinheiro em apostas esportivas e esquemas de pirâmide da mesma forma que investem em aplicações financeiras legítimas. Ou seja, não há uma distinção clara entre esses conceitos para grande parte da população.
Entre os fatores que contribuem para essa confusão, a pesquisa apontou:
🔹 Baixo nível de conhecimento sobre investimentos tradicionais – Muitos brasileiros não sabem como funcionam aplicações como ações, títulos públicos e fundos de investimento.
🔹 Exposição intensa à publicidade de apostas esportivas – A presença massiva de propagandas de casas de apostas em eventos esportivos, TV e internet normaliza esse comportamento como algo seguro.
🔹 Autoconfiança exagerada – Muitos apostadores acreditam que conseguem prever resultados e “controlar” os riscos, assim como investidores fazem ao analisar o mercado de ações.
“Os dados mostram que o comportamento especulativo não é exclusivo do mercado financeiro. As pessoas que apostam regularmente tendem a tomar decisões semelhantes quando se trata de investimentos, sem perceber as diferenças entre uma aplicação segura e um esquema fraudulento”, diz o estudo.
Efeito da publicidade das apostas
Outro ponto destacado pela pesquisa foi o impacto da publicidade massiva de apostas esportivas no Brasil. De acordo com os pesquisadores, a alta exposição a propagandas do setor pode aumentar a tolerância ao risco financeiro e a aceitação de modelos de ganhos fáceis.
“A exposição à publicidade de apostas faz com que os indivíduos normalizem a tomada de risco, o que pode levá-los a aceitar investimentos perigosos, como pirâmides financeiras”, destaca o relatório.
O estudo demonstrou que indivíduos que assistem frequentemente a anúncios de apostas têm maior propensão a investir em esquemas fraudulentos. Isso ocorre porque o cérebro passa a enxergar a promessa de lucro rápido como algo normal, reduzindo a percepção de risco.
“A regulamentação da publicidade de apostas é essencial para minimizar impactos negativos na população, assim como ocorre com bebidas alcoólicas e cigarros”, destacaram os pesquisadores.
Riscos da impulsividade e autoconfiança
A pesquisa também identificou que pessoas impulsivas e excessivamente autoconfiantes têm maior probabilidade de cair em golpes financeiros.
🔹 Indivíduos impulsivos são mais propensos a investir em pirâmides financeiras e a gastar grandes quantias em apostas esportivas.
🔹 Pessoas com excesso de autoconfiança acreditam que podem prever resultados e evitar perdas, o que os leva a arriscar mais dinheiro.
“O excesso de autoconfiança faz com que muitos apostadores acreditem que podem ‘sair na hora certa’ de um esquema Ponzi, sem perceber que a maioria das pirâmides desmorona antes que os primeiros investidores consigam recuperar seus aportes”, alerta o estudo.
Outro ponto revelado é que essas mesmas pessoas aplicam valores semelhantes em apostas, pirâmides e investimentos legítimos, demonstrando que não percebem diferenças reais entre essas modalidades.
Educação financeira
A pesquisa apontou que o aumento da educação financeira pode ser um fator de proteção contra golpes e apostas irresponsáveis.
“Os participantes que apresentaram maior conhecimento financeiro foram significativamente menos propensos a investir em pirâmides e apostas de alto risco”, diz o relatório.
🔹 Indivíduos com alto conhecimento financeiro foram menos influenciados pelo priming de apostas.
🔹 A literacia financeira básica ajudou a reduzir a aceitação de investimentos fraudulentos.
- Recomendações dos pesquisadores:
✔️ Campanhas de educação financeira para a população podem reduzir a vulnerabilidade a golpes e apostas descontroladas.
✔️ Maior regulação da publicidade das apostas para evitar a normalização do comportamento especulativo.
✔️ Inclusão de conceitos financeiros básicos nas escolas e universidades para que os jovens compreendam a diferença entre investimento e aposta.
“Os resultados demonstram que a crescente cultura de apostas no Brasil está formando uma mentalidade especulativa, onde o jogo se mistura com a ideia de lucro fácil”, alertam os pesquisadores.