Estudo mostra que comportamento de risco atinge minoria, mas aponta sinais de alerta com endividamento e gastos elevados
Apesar da expansão das apostas no Brasil, a maioria dos jogadores não apresenta sinais de comportamento compulsivo para vício. É o que revela a 8ª edição do Raio X do Investidor Brasileiro, levantamento realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) em 2024. Segundo a pesquisa, 59% dos apostadores estão no nível mais baixo de tendência ao vício, o que indica que a prática, para boa parte da população, ainda é vista como uma forma pontual de entretenimento.
O estudo mostra que, ao longo do ano, 23 milhões de brasileiros realizaram algum tipo de aposta, com homens representando dois terços do total. Embora a geração Z (16 a 28 anos) concentre a maior parcela (25%) entre os usuários de plataformas de apostas, é entre os millennials (29 a 43 anos) que se encontra o maior índice de comportamento compulsivo.
Sumário
Tendência ao vício
O levantamento identificou que apenas 10% dos apostadores estão no grupo de alta tendência ao vício, o equivalente a cerca de 3 milhões de pessoas. Dentro desse segmento, o perfil é marcado por uso semanal ou superior, alta exposição financeira e sinais de estresse emocional e endividamento.
A média de gastos mensais nesse grupo chega a R$ 683,64, três vezes mais que o valor médio geral, de R$ 216. Também chama atenção o fato de 71% declararem estar sob forte estresse financeiro, enquanto 63% têm dívidas em atraso. Entre os apostadores considerados compulsivos, 40% afirmaram sentir culpa em relação aos seus hábitos, e 52% admitiram apostar mais para tentar recuperar perdas anteriores.
Ainda segundo o estudo, 10% dessas pessoas recorreram à venda de bens ou a empréstimos para continuar apostando, e 30% relataram já ter ultrapassado os próprios limites financeiros.
Classe C e região Sudeste concentram apostadores
A maioria dos apostadores compulsivos está na classe C (53%), com 64% sendo do sexo masculino e 38% residindo na região Sudeste. A média de idade desse grupo é de 33 anos. Em contrapartida, a classe D/E é a menos representada entre todos os perfis, com apenas 10% de participação. Entre os que se identificam como apostadores ocasionais, o gasto mensal é mais contido, ficando em R$ 102, em média.
Apesar dos riscos associados a comportamentos compulsivos, a pesquisa reforça que a maior parte da população que aposta não ultrapassa limites, o que pode indicar a eficácia de campanhas de conscientização ou o uso mais moderado das plataformas.
Aposta como investimento
Um dado preocupante é o fato de que 51% dos que veem as apostas como investimento já estão com dívidas em aberto. Entre os que apostam com a intenção de ganhar dinheiro rapidamente ou obter grandes quantias, 67% justificaram sua motivação com essa expectativa financeira, o que reforça a importância de educação financeira para esse público.
A pesquisa também mapeou um recorte mais amplo do comportamento financeiro da população brasileira. Em 2024, 37% investiram em produtos financeiros, e pela primeira vez um terço (33%) conseguiu economizar. O perfil majoritário dos investidores é da classe C (46%), com renda média familiar de R$ 6.299, ensino médio completo (42%) e residência na região Sudeste (51%).