Justiça aceita denúncia por suposto desvio em contrato milionário com casa de apostas
O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, virou réu na investigação que apura irregularidades no contrato firmado entre o clube e a casa de apostas Vai de Bet. A denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) foi aceita pela juíza Márcia Mayumi Okoda Oshiro, da 2ª Vara de Crimes Tributários, e atinge mais cinco pessoas ligadas ao negócio.
O grupo é acusado pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto qualificado por abuso de confiança. O processo corre sob sigilo, e os denunciados terão de apresentar suas defesas nos próximos dias.
Além de Augusto Melo, a lista inclui os ex-dirigentes Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo) e Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing). Também viraram réus os empresários Alex Cassundé, apontado como intermediário da negociação, e os operadores financeiros Victor Henrique Shimada e Ulisses de Souza Jorge.
As investigações apontam que Ulisses Jorge, dono da empresa UJ Football, recebeu R$ 1,4 milhão da intermediação do contrato. A agência é citada como um dos braços financeiros do Primeiro Comando da Capital (PCC) pelo empresário Vinícius Gritzbach, que colaborou com a Justiça e foi assassinado a tiros em novembro de 2024, no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Sumário
Nota da defesa de Augusto Melo
Em comunicado, os advogados do presidente afastado informaram que irão impetrar um habeas corpus para extinguir o processo e pedem o fim do sigilo do caso. A defesa classificou a denúncia como “um processo ilegal e repleto de nulidades e abusos”, citando:
“Como o acesso a dados do Coaf sem autorização judicial e a participação da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo em um caso de competência da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, uma vez que envolve um contrato internacional”, afirmou.
O contrato, assinado no início da gestão de Augusto Melo, previa R$ 360 milhões ao Corinthians e garantia à intermediadora Rede Media Social Ltda — registrada em nome de Alex Cassundé — uma comissão de 7% sobre o valor líquido de cada parcela, equivalente a R$ 700 mil mensais durante três anos, totalizando R$ 25,2 milhões.
A parceria foi encerrada unilateralmente pela Vai de Bet em junho de 2024, depois que vieram à tona repasses de parte dessa comissão para a Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa considerada “laranja” e registrada em nome de Edna Oliveira dos Santos, moradora de Peruíbe, no litoral paulista.
Segundo a Polícia Civil, a Rede Media Social usou empresas fantasmas para movimentar cerca de R$ 1 milhão, valor que teria chegado à conta da UJ Football Talent Intermediação, vinculada ao PCC.
Exclusão de ex-diretor
A denúncia do MP-SP deixou de fora um ex-diretor do clube que havia sido indiciado pela Polícia Civil por omissão. Para os promotores, não há elementos suficientes para confirmar se ele agiu com dolo, embora possa haver nova análise conforme o artigo 18 do Código de Processo Penal.