Juíza aponta indícios de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e movimentações bilionárias ligadas a casas de apostas
A Operação Integration sai do âmbito estadual e passa a ser conduzida pela Justiça Federal. A decisão foi tomada nesta segunda-feira (28) pela juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal do Recife, que determinou a remessa do caso após identificar indícios de crimes contra o sistema financeiro, evasão de divisas e sonegação fiscal com impacto direto à União.
Inicialmente, a investigação mirava um esquema de lavagem de dinheiro do jogo do bicho em Pernambuco com conexão a apostas online. Com a transferência, a apuração deixa de ser conduzida pelo Ministério Público Estadual e Polícia Civil e passa para a alçada da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
Segundo a magistrada, a investigação avançou para apontar a existência de estruturas societárias sediadas em paraísos fiscais usadas para ocultação de ativos ilícitos. “Com o regular andamento da investigação conduzida pela Polícia Civil do Estado de Pernambuco, surgiram indícios concretos e relevantes da prática de delitos que extrapolam os limites da competência da Justiça Estadual, apontando para condutas com repercussão transnacional, indícios de evasão de divisas, crimes contra o sistema financeiro nacional, e sonegação fiscal com potencial prejuízo à União”, afirmou a juíza.
Sumário
Empresas citadas
A decisão cita nominalmente a Esportes da Sorte, patrocinadora do Corinthians, e José André da Rocha Neto, proprietário da Vaidebet, ex-patrocinadora do clube. As apurações indicam indícios de instrumentalização de empresas para dissimular a origem de valores via contas no exterior.
De acordo com os autos, apenas a HSF Gaming NV, controladora da marca Esportes da Sorte, teria movimentado 485 milhões de euros — cerca de R$ 3,1 bilhões — nas Ilhas de Man, considerado paraíso fiscal próximo à Irlanda do Norte. Parte dos valores, 6,3 milhões de libras esterlinas (aproximadamente R$ 46 milhões), já havia sido bloqueada em conta vinculada à empresa.
Ainda conforme a juíza, a investigação revelou que a Alpharise Investments SPF S.A., sediada no Luxemburgo, figura como acionista da HSF Gaming, reforçando a presença de estruturas internacionais na operação.
“As investigações apontam que a HSF Gaming NV teria movimentado, nas Ilhas de Man, o montante de EUR 485 milhões, oriundos de atividades de jogos de azar, com apoio operacional de facilitadoras de pagamento. Identificou-se, ainda, que a empresa Alpharise Investments SPF S.A., com sede no Luxemburgo, figura como acionista da HSF Gaming, evidenciando a inserção de estruturas societárias sediadas em paraísos fiscais como parte da engrenagem de ocultação de ativos ilícitos”, destacou a magistrada.
Reações
Procurada, a Vaidebet ainda não se manifestou. Em nota, a Esportes da Sorte classificou a decisão como um “ato de flagrante desespero” da juíza Andréa Calado. Segundo a empresa, a magistrada tomou a medida por “não ter mais como sustentar ilegalidades nem alimentar as acusações infundadas”.
“Seguimos firmes e confiantes nas instituições, certos de que se reconhecerá que não há justificativas para a continuidade das investigações, que todo o inquérito é nulo e que a Dra. Andréa Calado atuou desrespeitando o princípio da imparcialidade, dentre tantos outros constitucionais”, disse a empresa em comunicado.
A magistrada não detalhou a participação de Rocha Neto no caso.