Delegada afirma que não há denúncias ou investigação sobre o suposto golpe milionário que circula nas redes sociais
Um boato sobre uma suposta fraude milionária no sistema de pagamentos via Pix do Jogo do Tigrinho tem circulado nas redes sociais desde abril e gerado alvoroço, principalmente no Rio Grande do Sul. A história — que alega que um grupo de jovens teria descoberto uma brecha no sistema de apostas online para adulterar pagamentos por QR code — foi checada e desmentida pelo Estadão Verifica. Segundo a Polícia Civil gaúcha, não há qualquer registro, denúncia ou investigação em curso sobre o caso.
A alegação viral aponta que os supostos envolvidos teriam descoberto uma falha na plataforma para alterar o valor da aposta na hora do pagamento via aplicativo bancário, fazendo com que o jogo aceitasse o valor fraudado como legítimo. A fraude, segundo os vídeos, teria ocorrido na cidade de Vicente Dutra, na divisa entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e movimentado cifras entre R$ 8 milhões e R$ 15 milhões.
Polícia nega
No entanto, a Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul negou a veracidade dos fatos. “Nada disso é do nosso conhecimento. Não existem queixas ou registros formais relacionados a esse caso ou golpes parecidos. Existem apenas comentários nas redes sociais”, afirmou ao Estadão Verifica a delegada Aline Dequi Palma, diretora da 14ª Delegacia de Polícia Regional do Interior.
A delegacia citada tem sede em Palmeira das Missões e cobre 29 municípios — incluindo Vicente Dutra. De acordo com a delegada, nenhuma denúncia formal sobre o suposto golpe foi registrada, e os indícios apontam para mais um caso de desinformação alimentado pelas redes sociais.
Segundo a apuração do Estadão Verifica, a história vem sendo contada desde o início de abril no TikTok, com atualizações e novos elementos inseridos em diferentes versões do boato. Mas nenhuma delas apresenta provas concretas de que a fraude realmente aconteceu. A ausência de evidências e a constante adaptação da narrativa são características comuns de boatos virtuais.
O suposto esquema funcionaria da seguinte forma: os jovens apostariam valores altos e, na hora de efetuar o pagamento via Pix, fariam alterações no valor a ser transferido, reduzindo-o a centavos, e ainda assim recebendo os prêmios como se o valor integral tivesse sido apostado. Os vídeos afirmam que a movimentação financeira suspeita teria sido observada em comércios, concessionárias e bancos da região.
O coordenador geral de jornalismo do Complexo Luz e Alegria de Comunicação, Lucas Faustino, também reforçou que a história carece de qualquer comprovação. “As pessoas nos perguntam sobre esse golpe do Tigrinho, mas vejo isso como típico exemplo do ‘telefone sem fio’. A cada versão a história vai mudando e nenhuma prova é mostrada. Nossas fontes na região e na polícia não relataram nada disso”, declarou.
Jogo do Tigrinho legal
Apesar de seu histórico controverso, o Jogo do Tigrinho — nome popular do caça-níquel virtual Fortune Tiger — hoje opera dentro da legalidade. Criado em 2016 pela desenvolvedora PG Soft, sediada em Malta, o jogo se popularizou no Brasil por meio de influenciadores digitais, quando ainda não era regulamentado. Desde dezembro de 2023, com a legalização das “bets”, passou a operar de forma regulamentada no país.
Pagamentos
Apesar da fama do “Jogo do Tigrinho”, não é possível realizar pagamentos direto na plataforma. É necessário estar logado em um site de apostas legalizado e, a partir dele, realizar o depósito ou saque. As apostas ou ganhos na plataforma de jogos são acumulados na carteira do cliente, que decide se deixa os valores ou retira por meio de uma instituição financeira credenciada junto a Ministério da Fazenda.