Governo avalia que ‘Bet da Caixa’ atrapalha agenda de taxação e fortalece bancada das bets
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve retornar da viagem à Ásia com uma nova prioridade na agenda: convencer o comando da Caixa Econômica Federal a desistir do lançamento de uma plataforma própria de apostas online — a chamada “Bet da Caixa”.
A avaliação interna do Palácio do Planalto é que a iniciativa vai na contramão do discurso do governo de promover justiça tributária e de cobrar mais impostos de setores considerados lucrativos, como bancos, grandes fortunas e casas de apostas. Para auxiliares de Lula, se o próprio governo entrar no mercado de apostas, enfraquece o argumento de que o setor precisa ser mais tributado para compensar impactos sociais.
Além disso, integrantes da equipe econômica alertam que a criação de uma bet estatal fortalece a chamada “bancada das bets” no Congresso e pode atrapalhar a aprovação dos projetos de lei que serão enviados para taxar as apostas online. O governo pretende intensificar essa pauta para bancar o ajuste das contas públicas.
O presidente da Caixa, Carlos Vieira, foi indicado ao comando do banco pelo PP — partido do deputado Arthur Lira (AL) e do senador Ciro Nogueira (PI), um dos principais defensores das bets no Parlamento. Por isso, a previsão é de resistência política caso Lula determine o cancelamento da plataforma. Ainda assim, assessores do presidente são categóricos: “Lula vai mandar cancelar”, disse um auxiliar à reportagem do UOL.
Mesmo diante das pressões, Vieira afirmou recentemente ao site Money Times que a plataforma está prevista para operar até o fim de novembro e pode gerar até R$ 2,5 bilhões em receitas já em 2026.
Rejeição popular aos jogos embala governo
O Ministério da Fazenda e o Planalto dizem estar amparados por pesquisas internas que mostram que grande parte da população rejeita os jogos de aposta e acredita que eles provocam danos à saúde pública. Segundo o governo, esse posicionamento tem contribuído para o aumento da aprovação de Lula nas últimas semanas, ao reforçar a agenda de taxação de atividades consideradas nocivas.
O que vem por aí
A expectativa é que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, envie ao Congresso na semana que vem os projetos de lei para compensar o fim da Medida Provisória 1303, que tratava de uma nova taxação sobre o setor financeiro e não avançou.
Inicialmente, Haddad previa dois textos:
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um focado no controle de gastos, incluindo mudanças no seguro-defeso e no programa Pé de Meia
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outro voltado à taxação de bets e fintechs
Mas agora, o governo estuda reduzir o alcance da proposta sobre fintechs e centrar fogo nas empresas que atuam diretamente com apostas online, com diferenciação entre as apostas esportivas e os jogos online.
O ministro reforça que Lula não abrirá mão da pauta. “Nossa avaliação é que é um tema que está trazendo muitos danos à saúde pública”, afirmou Haddad.
