Levantamento apontou que cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de apostas online desde o início do ano
Um estudo realizado pelo Banco Central do Brasil (BCB) revelou dados inéditos sobre o mercado de apostas online no país e o perfil dos apostadores. O levantamento, feito a partir de uma solicitação do senador Omar José Abdel Aziz (PSD-AM), estimou o tamanho do setor de jogos de azar e apostas online no Brasil, destacando as movimentações financeiras e o comportamento dos jogadores.
A autarquia estima que cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de apostas online desde o início do ano, realizando pelo menos uma transferência via Pix para empresas de apostas.
A maior parte dos apostadores está na faixa etária entre 20 e 30 anos. Os valores apostados, entretanto, aumentam com a idade. Para os mais jovens, o valor médio de apostas gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto para apostadores mais velhos, acima de 60 anos, o valor ultrapassa R$ 3.000 mensais.
O estudo também apresentou um crescimento das transferências via Pix para empresas de apostas ao longo de 2024. O volume mensal variou entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões. Esses valores representam as transferências brutas, ou seja, o total apostado. Estima-se que cerca de 15% desse montante seja retido pelas empresas, com o restante sendo destinado ao pagamento de prêmios aos ganhadores.
Segundo o BCB, “aproximadamente 15% do que é apostado seja retido pelas empresas, com o restante distribuído aos ganhadores a título de prêmio”. Além disso, o relatório aponta que o valor de retenção pode estar subestimado, uma vez que outras formas de pagamento, como cartões de crédito e TEDs, também são utilizadas para realizar apostas.
De acordo com o documento, intitulado “Estudo Especial nº 119/2024 – Reproduzido da Nota Técnica 513/2024-BCB/SECRE”, foram identificados desafios na análise do mercado de apostas devido à atuação de empresas sob diferentes classificações econômicas e nomes divergentes dos divulgados publicamente. Isso, segundo o BCB, “exige uma identificação criteriosa” e torna o estudo mais complexo.
Loterias
O estudo também trouxe um comparativo entre os valores mensais das apostas online e das loterias referentes a agosto de 2024. Os dados apontam que as loterias movimentaram em média R$ 1,9 bilhão por mês, enquanto as apostas online classificadas corretamente no CNAE 9200-3/99 (Exploração de Jogos de Azar e Apostas) movimentaram apenas R$ 300 milhões. Contudo, empresas que operam apostas fora desse CNAE foram responsáveis por R$ 20,8 bilhões em transações no mesmo período.
O número de empresas registradas no CNAE de jogos de azar e apostas somava 520, com média de R$ 576.923 movimentados por cada CNPJ ativo. Em contrapartida, as empresas que não se classificam corretamente, mas operam no setor, somaram 56 CNPJs e tiveram uma média de R$ 235.714.286 em transações por empresa.
Bolsa Família
Em agosto de 2024, o estudo estimou que cerca de 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família realizaram transferências via Pix para apostas, totalizando R$ 3 bilhões. A mediana dos valores apostados por essas pessoas foi de R$ 100. Dentre esses apostadores, 4 milhões são chefes de família, os quais enviaram R$ 2 bilhões para as empresas de apostas.
Impactos sociais
O estudo do Banco Central ressalta que famílias em situação de vulnerabilidade financeira estão entre as mais prejudicadas pela atividade das apostas online. “É razoável supor que o apelo comercial do enriquecimento por meio de apostas seja mais atraente para quem está em situação de vulnerabilidade financeira”, aponta o relatório.
A instituição afirmou que continua monitorando o impacto econômico e social do mercado de apostas online, mas ressalta que a análise ainda está em fase preliminar e será aprofundada com o tempo.